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Nostalgia

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Carrego tropeços e vidraças quebradas,
Quero companhia que possa me salvar,
Mas da solidão não consigo escapar
Em noites que nunca serão encontradas.
Pergunte-me se eu reclamo por ser feliz.
O que é a felicidade quando mais tarde
A tristeza deixa o gosto amargo que arde
Nas lembranças que a minha boca não diz.

Uma noite: Francis e Estélio

Estélio: Boa noite senhorita Francis. Está um noite agradável, não acha?

Francis: Como todas as noites meu querido amigo Estélio, mas esta sem dúvidas está com algo especial. Sinto algo diferente, uma atmosfera cálida que me leva a refletir sobre se as noites são sempre as mesmas como eu supus a pouco ou se são meus olhos que estando apenas olhando, não veem o que o senhor em inúmeras vezes parece ver.

Estélio: Oras minha amiga, tenho olhos tão iguais aos seus. Vejo as noites sempre iguais. Nelas o céu parece ser maior que o dia porque como haveriam de caber tantas estrelas se assim não o fosse? E lua é a rainha que brinda o reino da escuridão. Essa é inconstante e muda de tempos em tempos, mas percebeu como nunca deixa de ser bela e majestosa? Sinto-me as vezes envergonhado de tamanha beleza. O belo quando se mostra em excesso nos faz sentir meio que desconfortáveis quando deveria nos fazer venerá-lo.

Francis: Percebes o que digo? Não vês tudo com olhos comuns. Talvez seja porque seus olhos são a única porta através do qual percebe tudo, ache que todos sentem o mesmo. Mas não coloca nada de especial em nada. Parece-me que vês o que há de especial em cada coisa e que não tenho olhos iguais aos seus. E isso me faz por vezes sentir este desconforto do qual fala. Sim, não que não goste de sua companhia, pelo contrário, aprecio-a… Mas queria poder ver o mundo assim como tu vês… É a vergonha senhor Estélio que me faz sentir assim.

Estélio: Vergonha… Mas do que poderia se envergonhar? Se mais nobre dama não conheço. Sempre tão cortês e com um olhar verdadeiramente sincero. Sinceridade faz falta no mundo de hoje. As pessoas falam como se estivessem em cima de um palco atuando e esperando receber aplausos ao final da peça. Não escutam verdadeiramente o que estão a dizer, pois no fundo nada lhe interessam e fingem estar entretidas, como num breve intervalo, esperando um novo espetáculo no qual ela acha protagonizar. E assim, o tempo passa e quando se dão conta, deixaram de aproveitar o mais importante, o de simplesmente assistir a grande peça que é vida, onde no fundo todos somos atores, mas sem dúvida alguma, espectadores. E a senhora é, nisso, ambas .

Francis: Fico feliz que assim me veja, mais uma vez creio ser o seu modo de vê-lo que o deixa assim. A vergonha que falo é de ter medo de ser diferente do que as pessoas esperam que eu seja e atender ao que eles esperam que eu pense, fale, sinta e faça.

Estélio: Mas a senhora acredita que as coisas são como são ou que tudo o é a partir do ponto de vista de alguém? Tudo o que pensamos e achamos é algo que realmente o fazemos ou não veio pré-determinado das percepções de outrem? Não me preocupo em pensar demasiado como as coisas são, mas sim, percebê-las através dos meus olhos, como a senhora falou tão bem… É só o que tenho. E sim, que maravilha isto! Cada um tem sua própria janela através do qual vê tudo e com seu próprio modo de ver. E podemos conversar sobre isso e que infinitas possiblidades existem. Milhares de histórias surgem, com a criatividade própria de cada um.  Como seria entediante se víssemos todos da mesma forma, não acha?