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Antítese

Sua prisão nos liberta
Revela nossas fraquezas, tornando-nos mais fortes
Promove guerras e encontra a paz
Causa medo e nos dá esperança
E na separação é que o nos une
Motivo do pranto e do sorrir
Perfura quando humilhado e faz flutuar quando nobre
Tem fim e é inifinito
O que mais faz  falta e o que mais transborda
O Amor é antítese na sua síntese

“Cuidado rapaziada,
tenham atenção a esse nó
que acontece no estômago
no preciso momento em que
esperam por vosso amante
na pracinha junto à igreja.
Ou é úlcera ou é amor.”

Cântico VI

Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acaba todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.

E então serás eterno.

Cecília Meireles

Histórias (nunca) esquecidas

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Já se passou muito tempo. Nossa história ficou esquecida em algum livro de romance perdido na prateleira de uma casa abandonada. Já não somos mais os mesmos que trocaram olhares inocentes durante o soar de um violão numa noite de domingo. Só não sabíamos que aquela noite iria fazer que nunca mais fôssemos os mesmos. Estava escrito o fim de nossa história antes que a pena tocasse o papel, mas a tinta parece não ser suficiente para extinguir o sentimento que surgiu. Foi uma autêntica história de amor, enquadraria-a no gênero tragédia, como as grandes histórias tem que ser. Sinto-me outra, entretanto acredito que  habitamos uma dimensão paralela onde repetidamente vivemos aqueles dias, os dias mais felizes, intensos e profundos que já vivi. Não guardo mágoa, rancor, raiva, nenhum sentimento capaz de profanar tudo o que vivemos. E se o final não foi feliz, rasgo essa folha e fico a ler esse livro de páginas amareladas, esperando que um dia as palavras se apaguem. E se eu vir a ir embora desse mundo antes disso acontecer, leia-as para mim enquanto olhar as estrelas, que estarei ouvindo a sua voz…

Conversa de Fim de Tarde depois de três anos no exílio

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Os garçons empilhando as cadeiras
você me olhando e me pedindo que
fale Por Favor Fale Mas Não Escreva
eu evitando o toque ruim dos ponteiros
do relógio que anuncia a já famosa fuga
de nossos corpos cada um para sua
ponta da cidade -se nosso amor fosse
revólver eu seria o cabo e você a mira
tal como dizia a professora Sofia Jones
é terrível a existência de duas retas
paralelas porque elas nunca se cruzam
e elas apenas se encontram no infinito
a verdade é que nunca nos interessou
a questão do infinito mas o resto
das ideias matemáticas claro que sim
eu na verdade prefiro mais de mil vezes
sua chávena de chá ficando fria sobre a mesa
enquanto você fala sobre raízes quadradas
enquanto você fala sobre ladrões de figos
enquanto você fala sobre o tropeço da baleia
subitamente eu já nem sei sobre o que você fala
porque a forma como seu dente incisivo corta
e suspende toda a beleza da cafeteria
faz com que eu novamente entenda que
pelo sétimo dia é chegada a hora do cuco
e do canto do cuco
portanto eu pego minha bicicleta
e como de costume você faz meu retrato
de cabelo todo desenhado no vento
em jeito de menino que está sempre indo embora
à mesma hora e que amanhã se tudo der certo
voltará à mesma hora para o mesmo amor
a mesma mesa a mesma explosão
com toda a certeza a mesma fuga
porque você e eu a gente é feito de matéria
escorregadia, i.e., manteiga, azeite, geleia
e espanto.

Bailarina

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Se ele encontra adormecido meu peito
Seu som ecoa num latejante pulsar,
Pois é de música que ele é feito
E cobra-me para ele com dançar.

Esse bailado faz meu corpo tremer,
Expira suor, intenso como uma cachoeira
Minha mão se estende sobre seu ser
E ele me fere… É a sua maneira.

E nessa dança sangrenta me enlaço,
Inerte sou levada por seu braço.
Se é carne a matéria que me forma,
É da sua essência que meu ser conforma.

Se quero que parem a Música? Jamais!
Ancorado fique o amor eternamente em meu cais.

Tristão e Isolda

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A mais bela história de Amor, um amor que venceu a morte!

Isolda: “Sabei que vos Amo Tristão. Para onde quer que vades, o que quer que vejais, eu estarei convosco.”
Tristão: “Tinheis razão Isolda … não sei se a Vida é melhor do que a morte, mas o Amor foi mais do que ambas…”

“… conta a Lenda que Isolda enterrou Tristão sob as ruinas Romanas e plantou na sua sepultura dois salgueiros que cresceram para sempre entrelaçados, depois desapareceu! Há quem diga que morreu de Amor.”

A Proibição

Tem cuidado ao amar-me.
Pelo menos, lembra-te que to proibi.
Não que restaure o meu pródigo desperdício
De alento e sangue, com teus suspiros e lágrimas,
Tornando-me para ti o que foste para mim,
Mas tão grande prazer desgasta a nossa vida duma vez.
Para evitar que teu amor por minha morte seja frustrado,
Se me amas, tem cuidado ao amar-me.

Tem cuidado ao odiar-me,
E com os excessos do triunfo na vitória,
Ou tornar-me-ei o meu próprio executor,
E do ódio com igual ódio me vingarei.
Mas tu perderás a pose do conquistador,
Se eu, a tua conquista, perecer pelo teu ódio:
Então, para evitar que, reduzido a nada, eu te diminua,
Se tu me odeias, tem cuidado ao odiar-me.

Contudo, ama-me e odeia-me também.
Assim os extremos não farão o trabalho um do outro:
Ama-me, para que possa morrer do modo mais doce;
Odeia-me, pois teu amor é excessivo para mim;
Ou deixa que ambos, eles e não eu, se corrompam
Para que, vivo, eu seja teu palco e não teu triunfo.
Então, para que o teu amor, ódio, e a mim, não destruas,
Oh, deixa-me viver, mas ama-me e odeia-me também.

John Donne, in “Poemas Eróticos”
Tradução de Helena Barbas

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Em mim também, que descuidado vistes,
Encantado e aumentando o próprio encanto,
Tereis notado que outras cousas canto
Muito diversas das que outrora ouvistes.

Mas amastes, sem dúvida… Portanto,
Meditais nas tristezas que sentistes:
Que eu, por mim, não conheço cousas tristes,
Que mais aflijam, que torturem tanto.

Quem ama inventa as penas em que vive:
E, em lugar de acalmar as penas, antes
Busca novo pesar com que as avive.

Pois sabei que é por isso que assim ando:
Que é dos loucos somente e dos amantes
Na maior alegria andar chorando.

Olavo Bilac

Não canse o cego Amor de me guiar

olhos vendados .

Pois meus olhos não cansam de chorar
Tristezas não cansadas de cansar-me;
Pois não se abranda o fogo em que abrasar-me
Pôde quem eu jamais pude abrandar;

Não canse o cego Amor de me guiar
Donde nunca de lá possa tornar-me;
Nem deixe o mundo todo de escutar-me,
Enquanto a fraca voz me não deixar.

E se em montes, se em prados, e se em vales
Piedade mora alguma, algum amor
Em feras, plantas, aves, pedras, águas;

Ouçam a longa história de meus males,
E curem sua dor com minha dor;
Que grandes mágoas podem curar mágoas.

Luís Vaz de Camões